Conteúdo do artigo:

  1. Perguntas e expectativas
  2. As qualidades
  3. Planejamento estratégico
  4. Mais jovem ou mais velho?
  5. Escolhendo o local
  6. Refletindo sobre custos

Perguntas e Expectativas

Durante toda a vida pessoal e profissional, sofremos pressões para seguir um caminho considerado “o natural”. O médico e também seus familiares e amigos depositam a expectativa de sucesso profissional no consultório. Mas não é bem assim!

Algumas especialidades não possuem tradicionalmente um ambulatório. Radiologia, anestesiologia e patologia, por exemplo, estão liberadas do ônus e do bônus. No entanto, alguns médicos dessas áreas estão encontrando satisfação pessoal e financeira atuando em consultório particular. É o caso dos anestesistas que agendam entrevistas de cirurgias eletivas, fazem procedimentos e se especializam em medicina da dor.

Sendo assim, não ache que não há mais espaço para novos consultórios. É bom ressaltar os empecilhos que encontrarão nesta nova empreitada, desde o doutor com anos de prática até o recém-formado. Faz-se necessário planejamento. O plano de negócios, tão enfatizado entre empreendedores, é uma ferramenta essencial. Aos poucos vou elencar alguns pontos principais. Porém, gostaria de fazer-lhes algumas perguntas sobre as expectativas da nova atividade:

Onde?

Já fez a análise do mercado? Quem são seus concorrentes diretos?

Quais os procedimentos iniciais para legalização?

Comprar, alugar ou sublocar?

Qual o mobiliário necessário?

Qual o custo mensal, considerando as possibilidades de negócio?

Vai atender plano de saúde? Quais?

Qual o prazo de retorno de investimento?

Gostaria de responder cada pergunta de maneira técnica e operacional, mas aplicar cada especificidade será impossível. Temos custos completamente diferentes em clínicas com procedimentos como dermatologia, proctologia e oftalmologia. Também devo considerar que nem todos escolherão um alto investimento em mobiliário e recursos como um programa de agendamento de consultas. Desta forma, as respostas serão direcionadas a um padrão de salas comerciais para o clínico. Todavia, quero ouvir sinceramente de você: gosta de ambulatório?

As qualidades do médico

Durante a graduação, pós-graduação, especialidade, você atendia sem pressa? Na grande maioria das vezes, era o último ou a última a sair do ambulatório? Algumas vezes, pegou o telefone e o prontuário do paciente preocupando-se se ele tomaria o remédio corretamente? Pediu para que ele voltasse assim que o exame estivesse pronto? Já fez ambulatório beneficente?

Se para todas as perguntas, a resposta foi sim, você deve começar a atender o quanto antes. A medicina precisa de pessoas como você. Independentemente da especialidade, terá um reconhecimento profissional perante seus pares e reconhecimento financeiro também. Não se esqueça de divulgar entre seus colegas e me enviar um email também (rsrs).

Para aqueles cujo sim foi a resposta da maioria das perguntas, mas tiveram dúvidas se realmente fazem aquilo… não desanime! Você pode deslanchar no seu empreendimento desde que consiga planejar-se a partir das outras perguntas.

Planejamento estratégico

Mais novo ou mais velho?

Este artigo contempla todos os médicos em várias fases da vida pessoal e profissional. É possível que um senhor queira exercer sua experiência profissional agora em consultório. Por que não?

Há claras vantagens nesta escolha: aparenta mais seriedade; possui ampla experiência na área de atuação; pode já ser reconhecido em ambiente acadêmico e em outros hospitais; costuma ter mais tempo disponível.

Nesta etapa profissional, muitos médicos já se aposentaram em algum emprego, conseguindo gerenciar melhor seu tempo. A idade traz cabelos brancos, os quais passam a confiança necessária a muitas pessoas. Certa vez, pensei em fechar o consultório e só reabri-lo aos sessenta, quando gozaria de todas estas vantagens.

Explico a desvantagem de começar a atender com mais idade, considerando a premissa de qualidade inata, ou pelo menos, o prazer de atender o público. Adquirir clientela em um meio tão competitivo será bem mais difícil. Muitos médicos mais velhos estão diminuindo o ritmo. Com enxurradas de artigos, é mais difícil acompanhar as publicações quando se pensa já conhecer o assunto. Tudo bem…isso depende do entusiasmo de cada um. Porém, há de se convir que a maioria diminui o ímpeto após os cinquenta ou sessenta. Enfim, o maior ponto de dificuldade é manter o entusiasmo e manter-se atualizado

De outro modo, a expressão “quanto mais cedo, melhor” está mudando para aqueles que preferem a mesa interposta entre o médico e paciente. Claro que não é regra, mas os mais jovens ainda têm o entusiasmo de estudo e trabalho, conseguindo atualizar-se. Também disponibilizam mais tempo aos casos mais interessantes e difíceis, discutindo-os com outros colegas. A desvantagem é a inexperiência. Neste caso, não é somente do ponto de vista técnico, mas também da análise do risco do negócio (consultório).

Escolhendo o local

A análise do contexto sócio econômico do local de atendimento deve ser considerada. Exemplifico com o residente de pediatria, iniciando seu consultório privado, sem referência dos seus colegas, em um bairro predominantemente de idosos e boa estrutura de saúde da família. Certamente, há menos chance de alavancar seu negócio e levará mais tempo para conseguir clientela.

Nem tudo está perdido quando se reside neste bairro e deseja ser pediatra. Uma estratégia é trabalhar na unidade pública de saúde como pediatra, promover campanhas de prevenção e promoção da saúde, enfim fazer um bom trabalho. Em breve, alguns pais levarão seus filhos no consultório particular, respeitando-se os preceitos éticos do nosso código.

Outro conceito antigo, arraigado às “ilhas” de consultório está sendo substituído pelo “o consultório deve ser próximo de casa”. Se na sua cidade, os bairros próximos possuem muitos idosos, o consultório de geriatria iria ser ótimo… Nem sempre!

Estudar a concorrência direta e indireta faz parte do plano estratégico do negócio. Conhecer o mercado é condição sine qua non, mas será abordada em um próximo post.

Outro item é a mobilidade urbana. Não há sentido no atendimento próximo de casa em bairro sem clientela. Posso levar 20 minutos de deslocamento até o bairro vizinho e ter mais oportunidades de clientes.

Perceba que já estou mudando o tom da conversa, ou melhor, da escrita. Superados os questionamentos sobre vocação, pense no consultório como um negócio e no paciente como um cliente. Este conceito, no caso da clínica privada, evitará problemas e, principalmente, o disseminará como exemplo de prestação de serviço.

Refletindo sobre custos

Continuando na prestação de serviços médicos e condutas éticas, a pergunta que se impõe é sobre lucro. Nada de pensar (ainda) sobre o valor da consulta. Também não gostaria de imaginar que você pensou em não emitir recibo (é crime de sonegação) ou economizar no papel do banheiro, no sabonete, etc. A preocupação com os custos será importante posteriormente. O que quero de você agora, caro leitor, é reflexão.

Quanto tempo dispende em uma consulta de primeira vez? Isso sim, tem implicações na qualidade do seu atendimento e no valor de sua consulta. Também terá consequências no seu lucro e no retorno de seu investimento daqui a cinco ou dez anos. Não há como fazer mágica.

Reflita alguns minutos, horas, ou mesmo dias, sobre o tempo médio de sua consulta. Reflita, também, sobre o retorno. Qual o tempo necessário para a consulta de retorno e como será a cobrança de honorários?

Enquanto faz esse exercício mental, vejamos o caso de um psiquiatra. Atendeu pela primeira vez um paciente cujo diagnóstico é transtorno depressivo maior. Fez a anamnese, ouviu os anseios e as situações que afligem o paciente. Traçou um perfil, somado aos antecedentes patológicos, que torna um ou dois medicamentos mais indicados.

Outro caso: o endocrinologista na consulta motivada pela descoberta do diabetes, levando-o não só a prescrever medicação oral ou insulina, mas também, ouvir todas as dúvidas, saná-las, explicar as complicações desta doença traiçoeira e orientar dieta e terapia. Se for usar insulina, irá proceder calmamente, explicando sítios de aplicação, onde comprar, marcas, como estocar, rodízio de aplicação no corpo e, se possível, demonstrar a angulação correta da agulha de insulina.

Depois desses dois exemplos, você começou a pensar o quão difícil é estabelecer um preço para seu trabalho. Na verdade, o raciocínio é estimar a hora trabalhada, considerando também a pesquisa de mercado com enfoque nos concorrentes diretos, ou seja, aqueles que atendem na mesma especialidade. Para fins de aprendizado, os concorrentes indiretos são todos os negócios de outras áreas que de alguma maneira farão seus clientes escolherem entre você ou eles. Por exemplo, a loja de roupas e o salão de beleza do seu prédio comercial irão “brigar” pelo seu cliente na escolha de como ele gastará seu dinheiro. Mas isso é assunto para outro momento! Não se preocupe agora.

Assim, sugiro agregar o valor da pesquisa de mercado entre seus concorrentes diretos, valor do que considera sua hora trabalhada e seus custos fixos e variáveis mensais. Isso é tão variável que não posso estimar para você esse total, mas em outro post escreverei dicas e materiais de apoio ao plano financeiro do seu negócio.

Se você se reconheceu nesta atividade, continue lendo. Seu caminho parece mais claro, mas ainda há muita coisa nebulosa. Teremos muito o que discutir sobre registro, legalização e custos.